quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O milagre

Estou grávida. De quatro meses. Depois da histero aconteceu, naturalmente, sem planos, nem stresses, nem injecções. O meu milagre.
Sou um sortuda. Somos.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O início

Depois do exame, nova consulta. Desta vez para definir tratamento. É agora que tudo vai começar, quase dois anos depois de termos começar a tentar engravidar.Vamos começar com passos muito pequenos. Regressámos ao Dufine, mas desta vez acompanhados com umas seringas pequenas. Não me agrada muito a ideia de ter de injectar líquido na barriga e, muito menos, ter de ser eu ou o N. a fazê-lo. Mas como tenho de o fazer à noite, não há volta a dar.
Se estou confiante? Não. Preferia ir direitinha à inseminação, encurtanto caminho e tempo. Mas o médico é que sabe. E eu vou ter de aprender a confiar nele.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

29 anos

Amanhã vou ter 29 anos. É o último ano com "vintes" na idade e acho que os tenho de gozar muito bem. Cada ano é uma aventura. Olho para o meu currículo e vejo que nunca estou no mesmo sítio. Mudei de trabalho tantas vezes que duas páginas não chegam para explicar o meu percurso profissional.
Estou, finalmente, numa empresa com contrato de trabalho, sem prazos para terminar. E, por isso, baixei os braços. Deixei de sentir que precisava de lutar. Os primeiros meses de adaptação foram e estão a ser difíceis. Mas hoje, o meu último dia com 28, decidi que a partir de amanhã vou pensar como uma vencedora. Vou pensar que sou boa no que faço, que os outros me reconhecem talento, que tenho dinheiro suficiente para ser feliz, que vou ser mãe em breve (que estranho agora o que senti quando escrevi a palavra). É a táctica da moda, que está naquele livro muito famoso - o Segredo.
Segunda-feira, quando tiver 29, vou conversar com o meu médico, vamos definir o tratamento. O primeiro. E vamos ser pais. À primeira.
A minha vida não se vai esgotar no jornalismo. Vou escrever livros. Vou ter uma coisa minha. Vou criar coisas boas para os que me rodeam. Vou ser empreendedora. Um dia, a ideia vai chegar. E eu vou estar aqui para a captar e agarrar.
No meu último dia com 28 anos, vou-me sentar ao piano, vou cantar, vou treinar partituras há muito esquecidas. Vou ser eu. Para nunca me esquecer do que sou. E do que vou ser.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Histerossalpingografia

Só o nome dá para assustar... e o facto de este ser um exame que vem com folha de instruções, é sinal de que a coisa não é pêra doce. Ontem lá fui à clínica para ver ao vivo e a cores como é a tal da histeroqualquer coisa. Serve para estudar a cavidade do útero e a permeabilidade das trompas.
Basicamente é o raiox interno, vaginal, portanto. O médico introduz um líquido na vagina que serve para iluminar as nossas entranhas e, assim, poder tirar as radiografias. Dói, é muito desconfortável e pode dar desmaios caso (como eu) se tenha a tensão baixa. Mas nada que um pastel de nata não cure. Meia hora depois, fui ver os The Gossip ao SuperBock Super Rock.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Os exames

A desigualdade está em todo o lado. Quem tem mais dinheiro, ganha mais tempo com o médico, ganha mais tempo para fazer mais tratamentos, ganha mais ânimo porque é tudo mais rápido. As clínicas de fertilidade privadas têm uma tabela de preços assustadora, mas ninguém faz ecografias em massa, nem tem cinco minutos de consulta onde o médico está de braços caídos impotente quando diz "as listas de espera são de dois anos". Para quem é infertil, ter dinheiro faz toda a diferença. Em Portugal não há qualquer incentivo à natalidade. Na Finlândia, o Estado paga até três tratamentos.
Na consulta onde desembolsámos 95 euros, confirmámos o que já sabíamos, mas também que, se tivermos dinheiro, vamos poder fazer rapidamente os tratamentos. Antes do "master plan" estar definido, temos ainda de fazer exames, incluindo a tal "histero-qualquercoisa", que - leio em todo o lado - não é nenhuma pêra doce. Esse exame custa 250 euros.
As férias no estrangeiro ficam mais distantes.

domingo, 20 de maio de 2007

A vida em directo

Este é um blog em tempo real. Há dois meses saíamos da MAC sem chão, depois de uma conversa de cinco minutos com um médico que só encolhia os ombros e fazia uma expressão do género "temos pena". Terça-feira vamos ao privado. Dois meses à espera de uma consulta, mesmo numa clínica privada onde supostamente os prazos se encurtam. Não há nada a fazer. Leio que isto nos ensina a ser mais pacientes. Preferia não aprender.
Terça-feira estamos à espera de ser melhor recebidos, de ouvir e perguntar mais, de ficar a saber mais coisas. Mas não vamos trazer as respostas todas. Teremos de repetir os exames quase todos, teremos de voltar a marcar consulta e, nisto, passam-se os meses. É a vida em directo. Um directo muito longo, preguiçoso, pouco produtivo.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Às vezes o mundo desaba

Sempre pensei lá no fundinho das minhas entranhas que as dificuldades que estamos a ter para engravidar fossem ultrapassadas com alguns medicamentos. Mas hoje, e à medida que vamos tendo mais informação sobre o que se passa no nosso corpo, o mundo desabou. A realidade, a verdade, saber que vamos mesmo ter de passar por este calvário imenso de tratamentos e listas de espera, deixou-me sem reacção. Não é justo para ninguém. Muito menos para quem não tem dinheiro.

sábado, 17 de março de 2007

Ecografia

Foi a primeira ecografia que fiz na MAC. Levantei-me cedo com o N. que também ia, no mesmo dia, fazer o espermograma, o primeiro na MAC. Esperei numa sala de espera que ainda cheirava a novo, ouvi uma senhora preocupada com os resultados do exame, com uma história faniliar marcada pela doença e morte. Estava de luto.
Chamaram-me. Despi-me numa casa de banho onde já estavam roupas de outras mulheres. Sai e esperei, vulnerável, com uma bata a cobrir-me o corpo e nua por baixo. Esperei no corredor, protegida por um minísculo biombo que separa a porta da sala de exames do guichet da recepcionista. Será que não podiam ter feito as coisas de forma a respeitar a dignidade das mulheres que ali ficam à espera, nuas, de serem chamadas para a ecografia?!

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Novo olhar

Dizem-me que ter filhos muda tudo. Muda até a forma como vemos as coisas, como assistimos ao desenrolar dos dias, como sonhamos. Tomo um café a ver o mar imenso desta vila pacata e ouço alguém dizer que a mudança é profunda... mais do que qualquer outra que possa ter acontecido até ao dia em que somos pais.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Proibido ter pressa

Os meus prazos são para ontem. A profissão que escolhi obriga-me a ter esta atitude permanente. É tudo para hoje, para daqui a duas horas, é preciso concretizar uma tarefa em pouco tempo, sempre a correr, sempre com prazo definido, marcado.
Quando percebi que não podia ter prazos para engravidar, tive de mudar a atitude mental. Pelo menos, tento fazê-lo. Neste momento, não saber os porquês e imaginar respostas é o pior. Num mês faz-se uma análise ao sangue, noutro uma ecografia, noutro o espermograma. Devia ser tudo muito mais rápido. Quando se entra num hospital público para tratar uma doença como a infertilidade temos mesmo de esquecer os prazos. Para fazer uma análiseao sangue, por exemplo, mandam-nos estar lá às 8 da manhã em jejum, mas só abrem o guichet de inscrições perto das 9. É mesmo proibido ter pressa.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Repetição

Todos os meses o cenário é o mesmo. Um atraso na chegada da menstruação e eu já sonho com o que vou dizer aos meus pais, como vou contar aos amigos e ao chefe que estou gávida. Depois de uns quatro dias de espera, vou à farmácia e compro o teste. A ansiedade é inimiga de quem está a tentar engravidar. O resultado é negativo, sempre. Uns dois dias depois e aparece o periodo.
Este mês, pelo contrário, estou com um atraso de 13 dias e nada. Os peitos estão inchados, mas o resultado do teste deu negativo outra vez. Pior do que só ver um traço vermelho a ditar o destino é nem sequer ter mestruação. Será que vou aguentar até Março a consulta na Maternidade?